Ponta dos Dedos

Ponta dos Dedos
Carollina Lauriano

Estabelecendo um diálogo entre as produções de Mika Takahashi e Patricia Baik, a mostra apresenta um conjunto de 21 obras que transitam entre pinturas a óleo e acrílica sobre organza, linho, entre outros suportes, além de uma série de esculturas que lidam com realidades contemporâneas, ao mesmo tempo que apontam caminhos para construção de novos imaginários de futuro.

Aqui, me interessa pensar o título da exposição como índice desses apontamentos. Ponta dos dedos, a princípio, surge como uma ideia de impressão digital; esse padrão único que armazena nossas identidades.

Se observarmos que a mostra reúne duas artistas com ascendência asiática, mais do que buscar proximidades entre as culturas – que embora estejam tão próximas a nós, ainda nos são distantes – quais são as singularidades implicadas em cada uma dessas subjetividades ademais de estereótipos e conceitos pré concebidos de que certos corpos só podem produzir certo tipo de arte. Identidade, para além da afirmação sobre si, também pode (e deve) ser um espaço de exercício de liberdade.

Dessa forma, a exposição se articula como um convite a olhar. E olhar além.

Em suas pinturas, Mika Takahashi elabora processos de memórias e vivências que se desencadeiam na criação de universos cheios de particularidades. Essa encenação entre imagem e narrativa é o elemento disparador do processo criativo de Mika, culminando na criação de ambientes oníricos, que transitam entre o figurativo e a abstração.

As composições pictóricas criadas por Mika evocam, de certa forma, lugares conhecidos, que inicialmente criam um lugar de acolhimento, mas não somente por apresentarem cenas facilmente reconhecíveis e nomináveis. Ao meu ver, a força do trabalho de Mika mora exatamente na incompletude das imagens.

Esse estranhamento que vai de encontro com uma noção de paisagem e toda sua atmosfera é a capacidade que o trabalho de Mika tem de despertar em nós lembranças; esses lapsos de memórias criados a partir da sobreposição de experiências e que são capazes de se renovarem cada vez que ela se manifesta, adicionando ou excluindo elementos que compõem a narrativa.

Se a percepção de intimidade rodeia os trabalhos de Mika, é no conjunto de obras de Patricia Baik que ela se fundamenta. De frente para a janela-vitrine da galeria, está uma pintura-instalação que apresenta dois corpos partilhando de um momento íntimo, do toque, da confiança, da entrega e da troca. E esses momentos estão presentes em outras cenas compostas por Patricia.

Suas obras suscitam a busca pelo encontro do outro. Pelo afeto. Mesmo quando as figuras se encontram sozinhas, Patrícia consegue estabelecer uma dimensão de presença. Mesmo a pequena borboleta repousada sobre a mesa não nos causa uma sensação de melancolia. A espera que ela possa ir de encontro a outras borboletas, ou que outras venham a seu encontro, ou mesmo que ela permaneça ali, sozinha, as narrativas permeiam um desejo de busca. Desejo de encontro de si em relação ao outro ou a si mesmo.

Assim, observamos que tanto Mika Takahashi, quanto Patricia Baik, estão sempre colocando o espectador diante de si mesmo, a fim de desconstruir e construir novas perspectivas sobre o olhar do outro, sobre si e o mundo ao redor, ampliando as possibilidades de reconstruir novas memórias para um novo futuro.