Sensações do Ordinário, Felipe Suzuki

Sensações do Ordinário, Felipe Suzuki
22 de setembro de 2022 zweiarts

Sensações do Ordinário

Ordinário.
Bruno Passos

Na origem (latim: Ordinarius) a palavra designava um alinhamento, algo em conformidade com o normal. Com os séculos, seu sentido se transformou, e assim como outras palavras associadas à simplicidade – Vil (“preço baixo”) e Vulgar (“referente à multidão”) – recebeu conotação negativa.

Nos três casos a origem do juízo de valor se deu do ponto de vista da Sociedade, ou seja, quanto menos abundante e mais elitizado, maior a importância. Um modo de vida que se guia tendo a Raridade como Valor; em oposição à valorização daquilo que é abundante, infinito, atemporal.
E o que isso tudo tem a ver com Arte?

Uma das qualidades mais fortes da Arte é a de nos rememorar o ato de Sentir, a possibilidade única de justificar o despropósito da vida apenas pelo fato de estarmos vivos e de todas as sensações implicadas por isso – independente de hierarquias sociais e de mercado.

E é aqui que o pintor Felipe Suzuki se insere com maestria, pronto a subverter a lógica que só vê qualidade onde há escassez. Suas obras nos permitem o foco necessário para apreciar tantos as pequenezas de um cômodo, como a “banalidade” de uma paisagem ou ainda uma lua que insiste em brilhar ali, no céu, dia após dia, confiável e delicada.

Felipe vem da mesma escola que o italiano Giorgio Morandi e que o dinamarquês Vilhelm Hammershoi, gênios do olhar intimista que, através de pinturas silenciosas e aparentemente banais, nos revelaram um mundo de emoções sofisticadas, pessoais e tão humanas.

Esta exposição conta com 14 obras da produção mais recente de Suzuki. Aqui os tamanhos diminutos das pinturas agem como convites à examinação e nunca se atiram sobre nós, pelo contrário, necessitam de aproximação, serenidade. É um processo de conhecimento mútuo: quanto mais se olha uma de suas obras, mais nos conectamos conosco.

Num mundo onde tudo parece piscar, ter que ser grande e agitado, é um prazer poder adentrar em um lugar sem ruídos, de sensibilidade ímpar e beleza constante, que nos convida ao infinito através do Ordinário.